Angico torrão Brasil
Terras em brasas
Céu cor de anil
Sol implacável
Queimando o chão
Queimando os sonhos
Da população.
Angico
Natureza hostil
Pedras e pedregulhos
Cercas e estacas
Gravetos secos
Inexistentes estercos
Açudes secos
Riachos perecidos
Nuvens blefantes
Lagoas secas
Mandacaru persistente
Políticas ausentes
Sequidão constante
Vidas secas
Vidas extintas
Sonhos secos,
Sonhos extintos.
Que dureza Angico!
Mais duro que...
Carvalho e Terebinto.
Angico
Veredas deste sertão
Povo sofrido
Povo aguerrido
Baianidade em exclusão.
Angico torrão Brasil
Terras em brasas
Céu cor de anil
Chão sem Angico
Céu sem chuvisco
Esperanças sem asas
Voam pra muito longe
Vidas aflitas em brasas
Clamores que ninguém
responde.
Deus onde estás?!
Pois o mal já sabemos
onde.
Chuva onde estás?!
Por que por tanto tempo
te escondes?!
O bonde do êxodo rural
leva nossos filhos pra longe
Enquanto a tristeza mordaz,
Nos devora e nos
constrange.
Saudade aqui é muito mais
que poesia
Está explicita e
implícita em nosso dia a dia.
Plantada, fincada,
arraigada
Nos corações sem
alegria.
E como aqui não tem
água
Regamos com lágrimas
Esta plantação
Que brota ano após ano
No único terreno fértil
Que é o nosso coração.
Angico
Terra estéril
Torrão Brasil
Presente no mapa
Mui longe das capas
Onde ninguém nunca viu.
Angico
Torrão natal
Torrão mortal
Com seus letíferos
caminhos
Adornados de dor e de
espinhos
Nunca mais de flores
Muito menos de
passarinhos.
Aqui onde o boi já não
há
A vida parece insistir
Em nos boicotar
Angico torrão natal
Nascer por quê?!
Não sei pra que!
Viver pra que?!
Viver por quem?!
Chego a desanimar
E até mesmo crer
Que Angico é...
Terra de ninguém.
Lenha seca e ossos
secos
Enfeitam nossa região
Enquanto nossos filhos
esquálidos
Descalços de pés no
chão
Fazem parte da paisagem
Daqueles que persistem
teimosamente
Próximos da inanição.
A retórica de hoje
Fala do ser cidadão
Mas os seres de Angico
Distintos desassistidos
Lutam por um pedaço de
pão.
Com pouca força e
coragem
Faço a minha oração:
Que o filho do homem
venha
Fazer morada em nosso
coração
Para que deixemos de
comer
O pão que o diabo
amassou
Para então comermos
O Pão que amassou o diabo.
Que o filho do homem
Não nos desampare na
luta
Para que possamos
vencer
Dia a dia a labuta.
Que nossa fome e sede
de justiça
Sejam plenamente
saciadas neste aprisco
Para que possamos viver
ainda nesta vida:
Um novo dia!
Uma nova vida!
Um novo Angico.
Para que este poema
possa terminar assim:
Angico torrão Brasil
De pastos verdejantes
Terras férteis e água
abundante
Povo alegre e varonil
Terra assistida
Terra incluída
Orgulho da nação Brasil.
Canta, canta, minha
gente
Com gratidão e louvor
Ao único
verdadeiramente digno
Que mudou tua sorte por
amor
Canta, canta, minha
gente
Se prostra e busca ao
Senhor.
Quero te ver Angico
Curado!
Abençoado!
Prostrado!
Diante do Senhor!
Morreu na cruz Angico
Pra ser teu Salvador.
Meu, meu Angico
brasileiro
Terra do Nosso Senhor.
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